Publicado por SeuGado.com em 31/01/2018
Iniciativa
prevê investimento em propriedades da Amazônia e do Cerrado que adotem boas
práticas de intensificação; pagamento variará conforme os lucros
Com o
objetivo de fomentar uma pecuária mais sustentável no país, a ONG The Nature
Conservancy (TNC) está desenvolvendo um instrumento de financiamento para
pecuaristas que querem intensificar a produção. Uma das ideias escolhidas pelo
Brasil Lab, iniciativa que apoia produções mais sustentáveis no país, em 2017,
a Climate Smart Cattle Ranching prevê a criação de uma nova companhia que
oferecerá assistência técnica e capital para quem aderir ao projeto. “A TNC não
é uma instituição financeira, é a maior ONG de conservação ambiental do mundo.
E, quando falamos em sustentabilidade, uma das partes importantes é a
financeira”, diz Anna Lucia Horta, business and investment officer da ONG no
Brasil.
Com a
intensificação da pecuária e a adoção de boas práticas, a ONG espera reduzir o
desmatamento. “Se o produtor tiver acesso a uma pecuária melhor, vai conseguir
produzir a mesma quantidade de carne em uma área menor e vai parar de
desmatar”. Com isso, segundo Anna, ele ainda pode liberar espaço para a soja -
como tem acontecido há anos - sem abrir novas áreas. “Você consegue também
diminuir a emissão de carbono por quilo de carne produzida, porque associa
recomposição da floresta, proteção das Áreas de Preservação Permanente (APPs),
manejo do pasto, menor tempo até o abate, entre outras práticas”, explica.
De acordo
com ela, apesar de a Embrapa ter desenvolvido mecanismos de intensificação da
pecuária há muitos anos, eles ainda são desconhecidos de boa parte dos
pecuaristas, culminando em 80% das pastagens com algum grau de degradação.
“Temos uma média de 0,7 cab/ha no país, mas conseguimos elevar para 4 cab/ha
com operações como colocar calcário no solo, fazer manejo de pasto e colocar
cercas para proteger as APPs e para rodar o gado. Só que muitos produtores não
têm acesso a crédito para fazer isso”, conta.
Como deve
funcionar - Para colocar o instrumento em prática, uma nova
companhia será criada. Empresa e produtor assinarão um contrato em que a
companhia oferecerá assistência técnica - por meio de um diagnóstico e um plano
de intensificação personalizado - e crédito e o produtor se comprometerá a
aderir totalmente ao Código Florestal e seguir as boas práticas de produção da
Embrapa, incluindo rastreabilidade do gado. “Cobra-se muito dos frigoríficos
que não comprem gado de região desmatada e você só consegue provar isso se esse
gado puder ser rastreado”, afirma Anna.
A gestão da
propriedade continuará a cargo do pecuarista. “A decisão é dele. A companhia
não vai impor nada, até o plano individual feito pela assistência técnica o
pecuarista pode decidir aceitar ou não”. Segundo ela, é importante que o
conhecimento técnico seja incorporado pelo pecuarista para que, quando a
parceria acabar, ele continue implementando as técnicas. “Se pensarmos que
vários desses produtores têm mais de uma propriedade, é razoável supor que a nova
companhia invista em uma e o produtor aplique a técnica nas outras”.
O modelo
exato de negócios ainda não está definido, mas companhia e produtor dividirão o
investimento inicial. “Estamos pensando em 85% pela nova companhia e 15% pelo
produtor. Isso vem de alguns estudos que fizemos do fluxo de caixa disponível
do produtor. Quando nada, ele tem gado para colocar lá dentro”. A porcentagem,
porém, não seria rígida e o produtor mais capitalizado poderia investir mais.
Os lucros, então, seriam divididos nessa mesma proporção e o retorno dos
investidores não teria um prazo fixo para ser pago. “A ideia é que sejam
investidores pacientes, que estejam dispostos a esperar um tempo maior e
dividir o risco”. O ganho esperado seria determinado na assinatura do contrato,
mas como clima e mercado podem afetar os rendimentos no período da parceria, a
duração dela variaria de acordo com o tempo necessário para o retorno do
investimento. “Na hora que esse investimento for pago, a parceria acaba. Isso
pode acontecer de 7 a 8 anos em média”. Nesse período, é possível que sejam
feitos investimentos menores de manutenção para que o retorno ao investidor
seja garantido, mas isso dependerá do que for acordado no contrato.
Por
enquanto, a TNC está buscando parceiros e investidores para a criação da nova
companhia. O objetivo é iniciar os trabalhos no segundo semestre de 2018 com
foco inicialmente na Amazônia e no Cerrado. Na Amazônia, a ONG já tem o
programa ‘Do Campo à Mesa’, então é possível que o projeto comece por essas fazendas
- sem ficar limitado a elas -, mas a nova iniciativa será diferente. “Naquele
primeiro programa, a TNC deu muitos insumos, o alcance era muito limitado. Aqui
a ideia é que essa limitação de financiamento não seja tão forte”.
Ganhos - Para Anna, a iniciativa pode trazer
benefícios para diversos elos da cadeia. A TNC ganha ao garantir que práticas
mais sustentáveis estão sendo adotadas, os investidores têm seu retorno e o
mercado passa a ter acesso a uma carne de qualidade ainda melhor. Já o pecuarista
consegue aumentar a produção - e pode até receber prêmio na arroba pela
qualidade e sustentabilidade da carne. De acordo com ela, essa forma de acesso
a crédito ainda teria o benefício da divisão de risco, já que os valores pagos
não são fixos e variam com o rendimento da propriedade. “E nesse caso o
produtor também não está sozinho, tem assistência técnica com interesses
totalmente alinhados ao dele. Quanto melhor sucedido for o produtor, mais
dinheiro o produtor e companhia ganham”.
Fonte: Portal DBO