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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A Qualificação no Campo


Empreendedor rural sofre com escassez de trabalhadores treinados para manejo de máquinas
Íntegra do Texto de Wandell Seixas - Diário da Manhã 29/08/2012

Há pro­du­tores ru­rais pa­gando sa­lá­rios em torno de R$ 3 mil em di­fe­rentes re­giões ge­o­e­conô­micas do Es­tado, para um ope­rador de má­quinas de alto nível tec­no­ló­gico. Os can­di­datos ho­mens de­sa­pa­re­ceram e muitas dessas fun­ções passam a ser ocu­padas por mu­lheres. A cons­ta­tação é do Ser­viço Na­ci­onal de Apren­di­zagem Rural em Goiás (Senar-GO) e, se­gundo o su­pe­rin­ten­dente do órgão, Mar­celo Costa Mar­tins, tem se des­do­brado pela re­a­li­zação de novos trei­na­mentos no Es­tado a fim de su­prir a de­manda. 
“Os cursos não têm custos para os pro­du­tores, nem para os em­pre­gados”, frisa Mar­tins. “É um atra­tivo a mais para os agro­pe­cu­a­ristas pre­ser­varem os em­pregos nas fa­zendas e me­lho­rarem, também, os ren­di­mentos nas pro­pri­e­dades.”
A So­ci­e­dade Goiana de Pe­cuária e Agri­cul­tura (SGPA), que con­grega di­re­ta­mente mais de cinco mil as­so­ci­ados, de­monstra pre­o­cu­pação com o pro­blema. Ontem (28), por exemplo, o pre­si­dente da ins­ti­tuição, Ri­cardo Yano, reuniu-se com Mar­celo Costa Mar­tins, para ne­go­ciar uma par­ceria com a en­ti­dade. A ideia de Yano é pro­por­ci­onar trei­na­mentos aos em­pre­gados das fa­zendas, no pró­prio local de tra­balho e, al­guns de gestão ou li­de­rança em­pre­en­de­dora, no Parque Agro­pe­cuário de Goi­ânia.
So­mente no ano pas­sado, o Senar-GO re­a­lizou 4,2 mil trei­na­mentos a 50 mil pes­soas. Em 2013, a pro­posta é de al­cançar 4,5 mil cursos e en­volver 60 mil trei­nandos no Es­tado in­teiro. Os pe­didos, no geral, são feitos por in­ter­médio dos sin­di­catos ru­rais pa­tro­nais, que hoje são mais de 120 dis­se­mi­nados no in­te­rior.
Com o cres­cente êxodo rural, o Senar-GO de­sen­volve ações para que a ren­ta­bi­li­dade au­mente nas pro­pri­e­dades ru­rais do Es­tado. “Não pelo uso de cré­dito ou fi­nan­ci­a­mento, mas pela uti­li­zação de tec­no­lo­gias ade­quadas e ne­ces­sá­rias, para que o pro­dutor possa, desta forma, oti­mizar o pro­cesso pro­du­tivo”, ob­serva Mar­celo Mar­tins.
Em de­cor­rência da falta de mão de obra mas­cu­lina no campo, os pro­du­tores têm bus­cado, com maior in­sis­tência, as mu­lheres, tra­di­ci­o­nal­mente meras do­més­ticas no meio rural. 
A sur­presa é que no pro­cesso de hi­gi­e­ni­zação das fa­zendas, so­bre­tudo nas salas de or­denha, as mu­lheres têm so­bres­saído. As usinas de cana, no sul e su­do­este do Es­tado, têm con­tra­tado as mu­lheres com maior in­sis­tência e os re­sul­tados são mais po­si­tivos, con­forme depõe o su­pe­rin­ten­dente do Senar-GO. “Elas operam má­quinas so­fis­ti­cadas sem ne­nhum pro­blema”, acres­centa. E con­clui: “as má­quinas mo­dernas não exigem força fí­sica e sim co­nhe­ci­mento.”
Em Ita­beraí, Gilson Costa, da Nata do Leite, é um dos cri­a­dores que optou pela maior par­ti­ci­pação da mu­lher no pro­cesso de lim­peza da sala de or­denha e ou­tros equi­pa­mentos. O peão fica para ou­tras ta­refas, como tocar as vacas para o curral ou o cocho, aplicar va­cinas, entre ou­tras ações. O ra­ci­o­cínio dele é o de que, num tra­balho com­par­ti­lhado, o casal au­fere maior renda e a ten­dência é o de se manter no em­prego. “Pre­parar uma mão de obra é di­fícil, so­bre­tudo hoje, com a ci­dade grande atu­ando como cha­mariz”, adi­anta.
“Pelas in­for­ma­ções dis­po­ní­veis, se al­guns anos atrás, 100% das ta­refas nas fa­zendas ca­biam aos ho­mens, este per­cen­tual hoje caiu para 80% a 70%”, expõe Mar­celo Mar­tins. Em função das di­fi­cul­dades de qua­li­fi­cação no campo, o Senar-GO, braço di­reito da Fe­de­ração da Agri­cul­tura e Pe­cuária de Goiás (Faeg), criou frentes de tra­balho vol­tadas para a pro­fis­si­o­na­li­zação no campo. São, atu­al­mente, 105 tipos de trei­na­mento, di­vul­gados di­re­ta­mente nas pro­pri­e­dades ru­rais, o pró­prio meio dos cri­a­dores e de seus tra­ba­lha­dores.
Em par­ceria com o Mi­nis­tério da Edu­cação (MEC), o Senar-GO passou a co­locar em prá­tica também o Pro­grama Na­ci­onal de Acesso ao En­sino Téc­nico e Em­prego (Pro­natec), que no Es­tado tem a Se­cre­taria da Edu­cação como par­ceira. A ideia é tra­ba­lhar a qua­li­fi­cação pro­fis­si­onal de jo­vens do se­gundo grau.
O Pro­natec dispõe de 343 turmas, com 5.180 alunos e a acei­tação é boa, se­gundo ma­ni­festa o su­pe­rin­ten­dente do Senar-GO. “São ações que ob­je­tivam a me­lhoria da mão de obra, con­se­quente au­mento dos ín­dices de pro­dução, pro­du­ti­vi­dade e, so­bre­tudo, a qua­li­dade dos ser­viços e dos pro­dutos. Todo esse com­plexo cul­mina por fa­vo­recer in­di­re­ta­mente a renda dos pro­du­tores”, con­clui Mar­celo Mar­tins.

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