Borboleta que ameaça produção
Com origem ainda incerta, lagarta devasta o agronegócio brasileiro e causa prejuízos que chegam a R$ 10 bilhões
Texto original de Wandell Seixas publicado no Diário da Manhã
Uma
praga com o difícil nome de Helicoverpa armigera já deu um prejuízo de
R$ 10 bilhões aos produtores brasileiros. Deste volume, estima-se que as
perdas em Goiás somam até agora R$ 1 bilhão. Na Bahia, no entanto, é
que o "bicho' pegou. A espécie é considerada altamente destrutiva pelas
pesquisadoras Cecília Czapak e Karina Albernaz, da Escola de Agronomia
da Universidade Federal de Goiás, e Lúcia Madalena Vivan, da Fundação
MT, de Cuiabá.
Foto de www.jornalufgonline.ufg.br |
Em suas análises, as pesquisadoras concluíram que "esses
insetos têm assolado de forma mais intensa lavouras de soja, milho,
algodão, feijão, tomate, entre outros cultivos comerciais". A conclusão
das três pesquisadoras é a de que a identificação correta, monitoramento
e manejo integrado são exigências – chave para se obter sucesso no
combate a esse desafio.
A Helicoverpa (foto) está tirando o sono de autoridades e produtores
dos Estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso. A preocupação
com essa praga e o seu controle é tão grande que em Luiz Eduardo
Magalhães, Oeste baiano, autoridades governamentais e produtores se
mobilizam por um encontro nacional no próximo dia 30. O grito de
salvação da lavoura foi dado, ontem, 18, em Goiânia, num seminário que
durou o dia inteiro na Secretaria da Agricultura e que conseguiu manter o
auditório praticamente cheio do começo ao fim. Em Brasília, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através do
Departamento de Sanidade Vegetal, descruzou os braços, busca maiores
informações, realça suas ações com os demais parceiros nos Estados
afetados e no exterior. A terrível lagarta, na realidade, já se faz
presente em 90 países da Europa, Ásia, África e Oceania.
Na Bahia, mais de mil pivôs compõem o cenário produtivo, nas
principais regiões. O Oeste, que faz divisa com Goiás, é onde há maior
preocupação com a infestação da praga Helicoverpa armigera. Nesse
Estado, a agricultura empresarial foca as atenções nas formas de
controle da propagação da lagarta. A informação veio a público ontem,
com base em dados reunidos pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária
da Bahia (Adab), durante o 1º Seminário Helicoverpa armigera em Goiás. O
dado alarmante é que, em todo o País, foram R$ 10 bilhões em prejuízos,
por conta da Helicoverpa, conforme revela o diretor de Defesa Sanitária
da Adab, Armando Sá Nascimento.
BIOTERRORISMO?
A professora da Faculdade de Agronomia UFG, Cecília Czepack,
entomologista, abriu o ciclo de palestras. Ela fez histórico do
aparecimento da lagarta no Brasil, falou da provável origem na Região do
Mediterrâneo e das possíveis hipóteses de vinda para o Brasil, que
podem ter sido via Argentina ou África, segundo especialistas. Até ato
de bioterrorismo é admitido, embora com reservas. As formas de ataque da
Helicoverpa, reprodução, identificação e quais são as pesquisas em
andamento para controlar a praga no Estado foram destaque na fala dos
conferencistas.
Tomate, alface, girassol, soja tiguera, milho, sorgo e demais
culturas são alvo fácil da praga Helicoverpa armigera, caso não sejam
tomadas ações de controle. "Não existe solução para a agricultura.
Existe controle", pondera Cecilia Czepak. Monitorar áreas de forma
frequente seria outra medida para conter a lagarta. A exemplo de outras
regiões do País, Goiás mantém ligado o alerta contra a possível
infestação, já que o inseto viaja aproximadamente mil quilômetros, em
até três dias. Cecilia descarta a possibilidade de bioterrorismo e
prefere acreditar em migração, de país a país. "Acreditava-se que o
inseto teria vindo da Argentina. Mas, após estudos, descartamos essa
possibilidade", concluiu. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN),
no entanto, demonstrou interesse pela identificação da procedência da
praga e oferecer maior segurança estratégica aos produtores nacionais.
Movimento mundial para conter a praga que preocupa economia
"Com base em estudos realizados em outros países, a
identificação correta da espécie, técnicas efetivas de amostragem de
ovos e lagartas, ou até mesmo pupas, são essenciais como subsídios para
as tomadas de decisão sobre as melhores táticas de controle, devendo os
levantamentos ser realizados em todas as possíveis culturas
hospedeiras", diz uma comunicação científica que trata sobre o assunto e
que foi levada ao conhecimento dos presentes na reunião ontem em Goiás.
Os autores identificam o que o mundo vem fazendo para
controlar a Helicoverpa armigera: "Como táticas de controle a serem
recomendadas, podemos considerar, tendo como referência outros países,
as armadilhas iscadas com feromônio sexual da praga, a utilização de
materiais resistentes, Bt ou convencionais, a destruição de restos da
cultura, a liberação de inimigos naturais, como, por exemplo, o
Trichogramma sp., que apresenta grande associação à espécie H.
Armigera."
Por fim, aponta o estudo, "o uso de inseticidas seletivos,
visando à manutenção dos inimigos naturais nas áreas agrícolas, sendo de
fundamental importância a rotação dos mecanismos de ação dos produtos,
para reduzir a pressão de seleção dos ingredientes ativos, haja vista a
facilidade com que a praga pode desenvolver resistência".
Fonte: www.agronoticiasmt.com.br |
A comunicação científica denominada "Primeiro registro de
ocorrência de Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) no
Brasil" é assinada por cinco especialistas, sendo quatro deles da Escola
de Agronomia da UFG: Cecília Czepak, Karina Cordeiro Albernaz, Humberto
Oliveira Guimarães e Tiago Carvalhais. Pelo Centro de Pesquisa Dario
Minoru Hiromoto, da Fundação Mato Grosso (Rondonópolis/MT), assina Lúcia
Madalena Vivan.
O portal mundial da Bayer CropScience dá conta que a
Helicoverpa pode atacar até 200 espécies de vegetais. "É muito polífaga,
uma praga de cerca de 200 espécies. Ataca um grande número de cereais,
vegetais e culturas de jardim, entre elas feijão, alho-poró, abobrinha,
limão, girassol, alcachofra, feijão guandu, sorgo e amendoim", diz o
material, que teve trechos publicados recentemente pelo site
especializado Agrolink.
Emergência fitossanitária e diagnóstico são discutidos para evitar avanços
Seguindo o exemplo da Bahia, Goiás elabora o diagnóstico de
infestação da praga. O objetivo é conhecer amplamente as principais
culturas e dar continuidade ao combate. Sabe-se que a lagarta ataca do
feijão ao tomate tanto o industrial quando o tipo salada. Recentemente, a
Portaria nº 042 declarou emergência fitossanitária para algodão e soja,
como atesta Rossana Serrato Silva, gerente de Sanidade Animal da
Agrodefesa. "O problema no tomate é seríssimo", ressalta, observando que
as delimitações de área são complexas, para aplicação de defensivos,
entre os quais o agrotóxico com o uso de Benzoato de Emamectina.
A utilização desse produto exige autorização especial e
conseqüente monitoramento, para impedir problemas ambientais, envolvendo
instituições como a Anvisa, Ibama, Mapa, Ministério Público e
Agrodefesa, no caso de Goiás. Na Bahia, por exemplo, o Ministério
Público proibiu a sua entrada.
Em outra frente, também foi formado grupo de trabalho, por
meio da Portaria 041, na tentativa de esboçar um plano emergencial, que
auxilie na reversão dos impactos da praga. O seminário reuniu produtores
rurais, agrônomos e estudantes de agronomia, biólogos e representantes
de instituições públicas e privadas, dentre produtores. O objetivo é
ampliar o debate em torno da praga, que se alastra à velocidade de mil
quilômetros, em até três dias. Durante a abertura, no início da manhã de
ontem, o secretário da Agricultura, Antônio Camilo Flávio de Lima
referendou apoio às ações de combate à infestação da praga.
"O governo do Estado tem as suas responsabilidades, mas
precisamos agir em conjunto, com várias entidades e técnicos, pois se
trata de um problema novo, preocupante e parece que veio para ficar.
Antes, tínhamos um vazio sanitário, agora temos praticamente uma segunda
safra, no lugar da safrinha, e isso abre espaço para pragas, doenças e
temos que aprender a lidar com isso", alerta o secretário.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás
(Faeg), José Mário Schreiner, assegura que esse é mais um desafio a ser
superado pelo segmento agropecuário, que é tido como o setor mais
competitivo do Brasil. "Nós tivemos prejuízos com a Helicoverpa em
Goiás, mas o que me alegra é a união de forças para superar essas
barreiras, o Brasil tem a agricultura mais moderna do mundo. Hoje é um
pontapé muito forte para buscar a solução para esse problema. Mais de
70% da economia goiana é agropecuária e nós temos orgulho disso", frisa.
Na realidade, ele considera "novo o problema, mas preocupante".
Nenhum comentário:
Postar um comentário