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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Praga Agrícola Vira Caso de Segurança Nacional

Borboleta que ameaça produção

Com origem ainda incerta, lagarta devasta o agronegócio brasileiro e causa prejuízos que chegam a R$ 10 bilhões

Texto original de Wandell Seixas publicado  no Diário da Manhã

Uma praga com o difícil nome de Helicoverpa armigera já deu um prejuízo de R$ 10 bilhões aos produtores brasileiros. Deste volume, estima-se que as perdas em Goiás somam até agora R$ 1 bilhão. Na Bahia, no entanto, é que o "bicho' pegou. A espécie é considerada altamente destrutiva pelas pesquisadoras Cecília Czapak e Karina Albernaz, da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, e Lúcia Madalena Vivan, da Fundação MT, de Cuiabá.
Foto de www.jornalufgonline.ufg.br

Em suas análises, as pesquisadoras concluíram que "esses insetos têm assolado de forma mais intensa lavouras de soja, milho, algodão, feijão, tomate, entre outros cultivos comerciais". A conclusão das três pesquisadoras é a de que a identificação correta, monitoramento e manejo integrado são exigências – chave para se obter sucesso no combate a esse desafio.

A Helicoverpa (foto) está tirando o sono de autoridades e produtores dos Estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso. A preocupação com essa praga e o seu controle é tão grande que em Luiz Eduardo Magalhães, Oeste baiano, autoridades governamentais e produtores se mobilizam por um encontro nacional no próximo dia 30. O grito de salvação da lavoura foi dado, ontem, 18, em Goiânia, num seminário que durou o dia inteiro na Secretaria da Agricultura e que conseguiu manter o auditório praticamente cheio do começo ao fim. Em Brasília, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através do Departamento de Sanidade Vegetal, descruzou os braços, busca maiores informações, realça suas ações com os demais parceiros nos Estados afetados e no exterior. A terrível lagarta, na realidade, já se faz presente em 90 países da Europa, Ásia, África e Oceania.

Na Bahia, mais de mil pivôs compõem o cenário produtivo, nas principais regiões. O Oeste, que faz divisa com Goiás, é onde há maior preocupação com a infestação da praga Helicoverpa armigera. Nesse Estado, a agricultura empresarial foca as atenções nas formas de controle da propagação da lagarta. A informação veio a público ontem, com base em dados reunidos pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), durante o 1º Seminário Helicoverpa armigera em Goiás. O dado alarmante é que, em todo o País, foram R$ 10 bilhões em prejuízos, por conta da Helicoverpa, conforme revela o diretor de Defesa Sanitária da Adab, Armando Sá Nascimento.

BIOTERRORISMO?

A professora da Faculdade de Agronomia UFG, Cecília Czepack, entomologista, abriu o ciclo de palestras. Ela fez histórico do aparecimento da lagarta no Brasil, falou da provável origem na Região do Mediterrâneo e das possíveis hipóteses de vinda para o Brasil, que podem ter sido via Argentina ou África, segundo especialistas. Até ato de bioterrorismo é admitido, embora com reservas. As formas de ataque da Helicoverpa, reprodução, identificação e quais são as pesquisas em andamento para controlar a praga no Estado foram destaque na fala dos conferencistas.
  
Tomate, alface, girassol, soja tiguera, milho, sorgo e demais culturas são alvo fácil da praga Helicoverpa armigera, caso não sejam tomadas ações de controle. "Não existe solução para a agricultura. Existe controle", pondera Cecilia Czepak. Monitorar áreas de forma frequente seria outra medida para conter a lagarta. A exemplo de outras regiões do País, Goiás mantém ligado o alerta contra a possível infestação, já que o inseto viaja aproximadamente mil quilômetros, em até três dias. Cecilia descarta a possibilidade de bioterrorismo e prefere acreditar em migração, de país a país. "Acreditava-se que o inseto teria vindo da Argentina. Mas, após estudos, descartamos essa possibilidade", concluiu. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), no entanto, demonstrou interesse pela identificação da procedência da praga e oferecer maior segurança estratégica aos produtores nacionais.

Movimento mundial para conter a praga que preocupa economia

"Com base em estudos realizados em outros países, a identificação correta da espécie, técnicas efetivas de amostragem de ovos e lagartas, ou até mesmo pupas, são essenciais como subsídios para as tomadas de decisão sobre as melhores táticas de controle, devendo os levantamentos ser realizados em todas as possíveis culturas hospedeiras", diz uma comunicação científica que trata sobre o assunto e que foi levada ao conhecimento dos presentes na reunião ontem em Goiás.

Os autores identificam o que o mundo vem fazendo para controlar a Helicoverpa armigera: "Como táticas de controle a serem recomendadas, podemos considerar, tendo como referência outros países, as armadilhas iscadas com feromônio sexual da praga, a utilização de materiais resistentes, Bt ou convencionais, a destruição de restos da cultura, a liberação de inimigos naturais, como, por exemplo, o Trichogramma sp., que apresenta grande associação à espécie H. Armigera." 

Por fim, aponta o estudo, "o uso de inseticidas seletivos, visando à manutenção dos inimigos naturais nas áreas agrícolas, sendo de fundamental importância a rotação dos mecanismos de ação dos produtos, para reduzir a pressão de seleção dos ingredientes ativos, haja vista a facilidade com que a praga pode desenvolver resistência".
Fonte: www.agronoticiasmt.com.br

A comunicação científica denominada "Primeiro registro de ocorrência de Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) no Brasil" é assinada por cinco especialistas, sendo quatro deles da Escola de Agronomia da UFG: Cecília Czepak, Karina Cordeiro Albernaz, Humberto Oliveira Guimarães e Tiago Carvalhais. Pelo Centro de Pesquisa Dario Minoru Hiromoto, da Fundação Mato Grosso (Rondonópolis/MT), assina Lúcia Madalena Vivan.

O portal mundial da Bayer CropScience dá conta que a Helicoverpa pode atacar até 200 espécies de vegetais. "É muito polífaga, uma praga de cerca de 200 espécies. Ataca um grande número de cereais, vegetais e culturas de jardim, entre elas feijão, alho-poró, abobrinha, limão, girassol, alcachofra, feijão guandu, sorgo e amendoim", diz o material, que teve trechos publicados recentemente pelo site especializado Agrolink.

Emergência fitossanitária e diagnóstico são discutidos para evitar avanços

Seguindo o exemplo da Bahia, Goiás elabora o diagnóstico de infestação da praga. O objetivo é conhecer amplamente as principais culturas e dar continuidade ao combate. Sabe-se que a lagarta ataca do feijão ao tomate tanto o industrial quando o tipo salada. Recentemente, a Portaria nº 042 declarou emergência fitossanitária para algodão e soja, como atesta Rossana Serrato Silva, gerente de Sanidade Animal da Agrodefesa. "O problema no tomate é seríssimo", ressalta, observando que as delimitações de área são complexas, para aplicação de defensivos, entre os quais o agrotóxico com o uso de Benzoato de Emamectina.

A utilização desse produto exige autorização especial e conseqüente monitoramento, para impedir problemas ambientais, envolvendo instituições como a Anvisa, Ibama, Mapa, Ministério Público e Agrodefesa, no caso de Goiás. Na Bahia, por exemplo, o Ministério Público proibiu a sua entrada.

Em outra frente, também foi formado grupo de trabalho, por meio da Portaria 041, na tentativa de esboçar um plano emergencial, que auxilie na reversão dos impactos da praga. O seminário reuniu produtores rurais, agrônomos e estudantes de agronomia, biólogos e representantes de instituições públicas e privadas, dentre produtores. O objetivo é ampliar o debate em torno da praga, que se alastra à velocidade de mil quilômetros, em até três dias. Durante a abertura, no início da manhã de ontem, o secretário da Agricultura, Antônio Camilo Flávio de Lima referendou apoio às ações de combate à infestação da praga.

"O governo do Estado tem as suas responsabilidades, mas precisamos agir em conjunto, com várias entidades e técnicos, pois se trata de um problema novo, preocupante e parece que veio para ficar. Antes, tínhamos um vazio sanitário, agora temos praticamente uma segunda safra, no lugar da safrinha, e isso abre espaço para pragas, doenças e temos que aprender a lidar com isso", alerta o secretário.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, assegura que esse é mais um desafio a ser superado pelo segmento agropecuário, que é tido como o setor mais competitivo do Brasil. "Nós tivemos prejuízos com a Helicoverpa em Goiás, mas o que me alegra é a união de forças para superar essas barreiras, o Brasil tem a agricultura mais moderna do mundo. Hoje é um pontapé muito forte para buscar a solução para esse problema. Mais de 70% da economia goiana é agropecuária e nós temos orgulho disso", frisa. Na realidade, ele considera "novo o problema, mas preocupante".

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