Carrapatos
acarretam prejuízos incalculáveis a criadores
Problemas
estão associados à perda de peso, baixa conversão alimentar, redução na
produção de leite, perdas na qualidade do couro, toxicoses, lesões de pele,
entre outros
Íntegra do texto de Wandell Seixas - Diário da
Manhã
Existem no mundo quase 900 espécies de carrapatos,
segundo levantamento de pesquisadores da Embrapa. Só no Brasil são mais de 50
delas. Informação é do médico veterinário da Agência Goiana de Assistência
Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), Jesus Xavier Ferro,
um dos responsáveis pelo segmento leiteiro da instituição, que leva orientação
e apoio técnico aos pequenos agricultores do interior do Estado.
Boophilus microplus. Fonte: www.insecta.ufv.br
“A mais importante, e que traz mais prejuízos, é
sem dúvida a espécie Boophilus microplus,
o carrapato dos bovinos, que, no Brasil, é o responsável por grandes prejuízos
aos pecuaristas que exploram gado de leite”, observa Jesus Xavier Ferro,
preocupado com a disseminação de carrapatos nas fazendas goianas. Os carrapatos
podem espalhar uma grande variedade de organismos que causam doenças, inclusive
bactérias, vírus e protozoários.
Prejuízos causados por estes ectoparasitas estão
associados à perda de peso, baixa conversão alimentar, redução na produção de
leite, perdas na qualidade do couro, toxicoses, lesões de pele que favorecem a
ocorrência de miiáses, anemia e transmissão de agentes patógenos que provocam
graves enfermidades.
Todavia, este último fator é o que ocasiona os mais
altos prejuízos indiretos, destacando-se a diminuição na produção de leite,
redução da natalidade, consumo de carrapaticidas, investimentos em banheiros e
aspersão, perda de peso, mão de obra e morte do animal.
Na Argentina, as perdas econômicas por causa do
carrapato bovino superam os US$ 100 milhões anuais. No México, calculou-se as
perdas anuais em 30 quilos de carne por animal ao ano; e uma redução na
produção de leite num valor estimado de 303,75 milhões de pesos mexicanos. Já
na Austrália, observou-se perdas de 182 litros de leite/animal/ ano ou o
equivalente a 5.300 toneladas anuais de manteiga. Em Cuba, além das perdas
associadas à produção, foi relatado que 22% das fêmeas diminuiram a
apresentação de cio e o índice de natalidade é reduzido em 20%.
Segundo Jesus Ferro, com os contínuos usos
inadequados de carrapaticidas, esses minúsculos animais vão se tornando
resistentes, fazendo com que o pecuarista gaste cada vez mais na busca do
carrapaticida “milagroso”, o que não acontece, e os prejuízos continuam. “As
perdas que ocorrem noutros países latino-americanos são as que se repetem
também nos criatórios brasileiros”, acredita o técnico da Emater, tomando por
base cálculos por cima de produtores de Goiás e outros Estados.
Com relação à população de carrapatos em uma
propriedade, especialista da Emater diz que é bom lembrar que quase 95% deles
encontram-se nas pastagens em forma de larvas famintas, para se alimentarem de
sangue bovino. “Apenas 5% estão nos animais. Portanto, medidas de controle
devem ser relacionadas ao carrapato em si, ao hospedeiro e ao ambiente”,
ressalta.
Ao discorrer como ocorrem as infestações nos
rebanhos, Jesus esclarece: “Os bovinos adquirem o carrapato quando caminham por
uma pastagem. As larvas, que são os filhotes dos carrapatos, sobem no animal e
procuram um local adequado para se fixar e iniciar a alimentação.”
Os bichinhos se alimentam de sangue e logo se
transformam em ninfas. Posteriormente, se transformam em carrapatos adultos,
machos e fêmeas que acasalam. Fêmeas cheias de sangue e de ovos, caem ao solo e
põe de dois a três mil ovos cada, que logo se transformam em novas larvas nas
pastagens e assim o ciclo se repete.
O período que o carrapato permanece sobre o bovino
gira em torno de 20 dias e, por isso, o intervalo entre banhos carrapaticidas
sempre deverá ser de até 21 dias, seja no inverno ou verão.
Controle
“Escolhido o carrapaticida, usá-lo,
estrategicamente, durante vários anos sem substituí-lo, até que comece a não
funcionar mais.” Nessa escolha, Jesus Ferro recomenda a realização do teste de
sensibilidade (carrapaticidograma). Segundo ele, a Embrapa faz gratuitamente,
mas também pode ser feito na região do criador, através do extensionista da
Emater do seu município.
A recomendação do técnico é a de se fazer cinco a
seis banhos nos meses mais quentes do ano a cada 21 dias, independentemente se
tenha ou não carrapatos visíveis. E também: ler atentamente a bula do produto
para ver dosagem, cuidados e carência; banhar usando pulverizadores de boa
pressão, aplicando a calda no sentido contrário aos pelos e molhando todo o
animal, começando-se sempre pelas partes baixas, entre as pernas, úbere e, por
fim, cabeça e orelhas.
Usar bomba costal só para pequenos rebanhos,
adianta ele. “Em rebanhos maiores, usar bomba tipo das de lavajato e colocar os
animais em brete próprio, de arame liso ou cordoalhas, ou ainda utilizar os
atomizadores comerciais.”
As recomendações adiantam ainda, se evitar dias de
chuvas e de sol muito forte para o tratamento. Se estiver chovendo, deixar o
gado pulverizado preso em área coberta por duas horas.
Após o banho os animais devem retornar às pastagens
infestadas para receber novas larvas e estas morrerem por ação do
carrapaticida, lembra.
Animais de maior grau de sangue europeu,
normalmente os mais atacados pelo carrapato, devem receber maiores cuidados, é
o que assinala Jesus Ferro.
Identificar e cuidar mais intensamente dos animais
de “sangue doce” que são “fabricas” de carrapatos. Esses animais devem ser
descartados, sempre que puder, sugere.
Finalmente, observa aos criadores, para não
utilizares produtos como Acatak e Top Line em vacas lactantes, pois esses
produtos deixam resíduos no leite por até quatro meses e são prejudiciais à
saúde humana. “Além de serem proibidos por Lei Zoossanitária Estadual.”
Da
mesma forma, conclui, “não devem ser usadas as Ivermectinas, Abamectinas e
Doramectinas, que também deixam resíduos prejudiciais no leite até trinta e
cinco dias. E falando em resíduos, não esquecer do uso correto de antibióticos,
que também deixam resíduos prejudiciais, se não for observado o período de
carência, para a utilização do leite”.
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