Raça
desenvolvida pelos produtores do Estado de Goiás já transpõe fronteiras
Íntegra
do texto de Wandell Seixas - Diário da Manhã de 06/01/2013
A Associação dos Criadores de Tabapuã em Goiás,
recém-criada em Goiânia, nasce com o propósito de fomentar e melhorar uma raça
genuinamente brasileira – ou melhor, goiana. O Tabapuã decorre de cruzamento
entre o gado mocho nacional e animais de origem da Índia, berço do zebu.
A história do zebu goiano remonta a 1907. Em
Leopoldo de Bulhões, região da Estrada de Ferro, o fazendeiro José Gomes Louza
demonstrou interesse por reprodutores zebus. Importou, então, alguns
animais da longínqua Índia, país encravado na Ásia e onde a vaca é praticamente
sagrada.
A ACTG é formada por criadores de animais da raça
Tabapuã no Estado, em sua maioria sócios da Sociedade Goiana de Pecuária e
Agricultura (SGPA). Wagner Miranda, criador e médico especializado em cirurgia
do aparelho digestivo, ao lado da esposa Ana Maria, também médica em Goiânia,
são apaixonados pela raça Tabapuã.
Dr. Wagner, como é mais conhecido, foi aclamado nas
funções de presidente da nova entidade e aprovado estatuto próprio. Sede da
ACTG está situada no próprio Parque Agropecuário desta Capital. Ana Maria Miranda preside a Associação Brasileira do
Tabanel e é diretora de Divulgação e Marketing da nova associação.
Hoje, os criadores de Tabapuã neste Estado ascendem
a trinta. Os animais passam da casa dos dez mil, “puros”, como faz questão de
frisar o novo presidente, Wagner Miranda. Em decorrência do seu desenvolvimento
genético, os criatórios se disseminam por outros Estados. “A comercialização do
material genético já ocorre com outros países da África e das Américas do Sul e
Central”, informa.
Em Goiás, os grandes criadores, responsáveis pelo
desenvolvimento da raça, se associaram à ACTG, observa o Wagner. “O nosso
interesse é contribuir no desenvolvimento genético, na divulgação, na promoção
de feiras em Goiás e noutros Estados”, salienta, por sua vez, a Dra. Ana
Miranda. Segundo ela, o Tabapuã já esteve representado na Colômbia.
Como
surgiu a raça
De Leopoldo de Bulhões surgiram os primeiros
zebuínos mochos no Brasil. Em 1912, vários desses animais já eram expostos na
Cidade de Goiás. Na década de 30, Lourival Louza, neto do pioneiro José Gomes,
se dedicou ao cruzamento desses animais com o Nelore e deu origem ao gado
anelorado mocho ou baio mocho, como ficou conhecido. O sangue do Guzerá e do
Gir foram introduzidos mais tarde e também fazem parte da formação do Tabapuã.
Nos anos 40, o gado mocho começou a se espalhar por
outras regiões. Júlio do Valle, proprietário da Fazenda São José dos Dourados,
levou alguns desses animais de Goiás para São Paulo e presenteou o amigo
Alberto Ortenblad, da Fazenda Água Milagrosa, com um garrote zebuíno mocho.
Com interesse em desenvolver bovinos com melhores
qualidades, a família Ortenblad criou em 1943 um planejamento zootécnico
elaborado. Assim, 100 matrizes Nelore foram separadas para as experiências com
o touro T-0, como foi chamado o garrote mestiço. Trabalhos e resultados foram
registrados em detalhes. Foi a partir desses cruzamentos que a coloração
branco-acinzentada do Nelore predominou nos animais, que permaneceram sem
chifres como o gado mocho.
Bons resultados chamaram a atenção do mercado nos
anos seguintes. Em 1970, Ministério da Agricultura recomendou que o Tabapuã
fosse incluído entre as raças zebuínas, ainda como “tipo”. A Associação
Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), então, foi encarregada de realizar o
registro genealógico da espécie. Em dez anos, o Tabapuã precisaria mostrar
através de análises e provas as características que o diferenciavam de outros
zebuínos.
Fonte: www.portaldoagronegocio.com.br
Entre 1970 e 1980, o Tabapuã ganhou 80% das
pesagens de que participou e em 1981 foi definitivamente reconhecido como raça.
O terceiro neozebuíno a ser formado no mundo, depois do Brahman e do
Indubrasil. Por ser o primeiro entre esses a surgir a partir de um planejamento
específico, o Tabapuã é considerado a maior conquista da zootecnia brasileira
dos últimos cem anos.
Vantagens
da raça
As vantagens do Tabapuã para reprodução se destacam
entre os zebuínos. Com pouca idade no primeiro parto, as matrizes apresentam
alto índice de fertilidade e a habilidade materna da raça garante bom
desenvolvimento para os bezerros.
Entre os 14 e 16 meses, as fêmeas atingem em média
25% de fertilidade. Entre os 16 e 18 meses, 50% e entre 18 e 20 meses, mais de
60%. Algumas fazendas já registram 95% de sucessos em inseminação artificial.
As matrizes Tabapuã também apresentam boa produção de leite.
Essa característica faz com que os bezerros da raça
tenham desempenho superior a outros zebuínos da mesma idade. Aos 120 dias, por
exemplo, eles chegam a 118 quilos em média e na desmama já estão com 200
quilos.
A idade do primeiro parto e o intervalo entre os
partos seguintes são a base do índice de natalidade. Bons resultados nesse campo
significam maior lucro para o produtor. Nesse quesito, o Tabapuã comprova seu
valor todos os anos nas feiras e exposições de que participa.
Animal
dócil
Docilidade é uma das características mais prezadas
pelos criadores. Sem chifres, a raça é mansa e por isso não se estressa ou
perde peso durante vacinações, pesagens e transporte. O Tabapuã lida melhor com
alimentação no cocho, aceitando com facilidade o confinamento. Todas essas
características se unem à rusticidade e resistência da raça e formam o gado
ideal, que dá menos trabalho e mais resultado para o pecuarista, segundo a
Associação Brasileira dos Criadores de Tabapuã.
Tabapuã é considerado o zebu mais precoce. Os
animais são campeões de peso já aos 205 dias e mantêm essa vantagem ao longo do
seu desenvolvimento. Em média, os bois chegam à fase de abate aos 30 meses. O
Nelore, por exemplo, costuma ser abatido a partir dos 40 meses de idade.
Essa é uma característica própria da raça. Seja no
pasto ou em confinamento, os animais têm bom ganho de peso e demonstram
acabamento de carcaça exemplar. A precocidade do gado é um fator valioso e o
Tabapuã mostra suas vantagens na balança.
A taxa de inbreeding
ou consangüinidade próxima elevada dá ao Tabapuã a habilidade de extinguir
defeitos e perpetuar qualidades. Por isso, sua utilização em cruzamentos com
outras raças tem crescido vertiginosamente. Seja em gado de leite ou de corte,
as melhorias que o Tabapuã pode trazer ao rebanho são de interesse de muitos
criadores.
Experiências com o Nelore têm produzido grandes
resultados. O Tabanel, fruto desse cruzamento, é exemplo das possibilidades e
benefícios da genética Tabapuã. Outro destaque é o Tabolando, vindo da cruza
com o gado holandês e voltado para a produção leiteira. Animais mais fortes,
dóceis e com melhor desempenho são o objetivo dessas iniciativas, que têm
sucesso confirmado.
A raça também tem sido utilizada para melhoria do
gado europeu. Entre os zebus, é a que melhor se adapta à região sul do país.
Por isso, tem participação importante em experimentos com o Hereford, por
exemplo. O sangue do Tabapuã tem reduzido a mortalidade e aumentado a
longevidade dos rebanhos gaúchos. Ou seja, tem gerado mais lucratividade para o
produtor.
A Associação dos Criadores de Tabapuã em Goiás
(ACTG) é presidida por Wagner Miranda. Ocupa a vice-presidência, José Vicente
Ferreira Passani; diretoria social, Goiás Celso Chaves de Amorim; diretor
administrativo e financeiro, Willion Carlos Reis de Barros; diretor secretário,
Irondes José de Morais; diretor técnico, Giorgio Lorenzo Arnaldi; e diretora de
divulgação e marketing, Ana Maria Miranda.
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