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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Genuinamente Goiano



Raça desenvolvida pelos produtores do Estado de Goiás já transpõe fronteiras

Íntegra do texto de Wandell Seixas - Diário da Manhã de 06/01/2013

A Associação dos Criadores de Tabapuã em Goiás, recém-criada em Goiânia, nasce com o propósito de fomentar e melhorar uma raça genuinamente brasileira – ou melhor, goiana. O Tabapuã decorre de cruzamento entre o gado mocho nacional e animais de origem da Índia, berço do zebu.
A história do zebu goiano remonta a 1907. Em Leopoldo de Bulhões, região da Estrada de Ferro, o fazendeiro José Gomes Louza demonstrou interesse por reprodutores zebus. Importou, então, alguns animais da longínqua Índia, país encravado na Ásia e onde a vaca é praticamente sagrada.
A ACTG é formada por criadores de animais da raça Tabapuã no Estado, em sua maioria sócios da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA). Wagner Miranda, criador e médico especializado em cirurgia do aparelho digestivo, ao lado da esposa Ana Maria, também médica em Goiânia, são apaixonados pela raça Tabapuã.
Dr. Wagner, como é mais conhecido, foi aclamado nas funções de presidente da nova entidade e aprovado estatuto próprio. Sede da ACTG está situada no próprio Parque Agropecuário desta Capital. Ana Maria  Miranda preside a Associação Brasileira do Tabanel e é diretora de Divulgação e Marketing da nova associação.
Hoje, os criadores de Tabapuã neste Estado ascendem a trinta. Os animais passam da casa dos dez mil, “puros”, como faz questão de frisar o novo presidente, Wagner Miranda. Em decorrência do seu desenvolvimento genético, os criatórios se disseminam por outros Estados. “A comercialização do material genético já ocorre com outros países da África e das Américas do Sul e Central”, informa.
Em Goiás, os grandes criadores, responsáveis pelo desenvolvimento da raça, se associaram à ACTG, observa o Wagner. “O nosso interesse é contribuir no desenvolvimento genético, na divulgação, na promoção de feiras em Goiás e noutros Estados”, salienta, por sua vez, a Dra. Ana Miranda. Segundo ela, o Tabapuã já esteve representado na Colômbia.
Como surgiu a raça
De Leopoldo de Bulhões surgiram os primeiros zebuínos mochos no Brasil. Em 1912, vários desses animais já eram expostos na Cidade de Goiás. Na década de 30, Lourival Louza, neto do pioneiro José Gomes, se dedicou ao cruzamento desses animais com o Nelore e deu origem ao gado anelorado mocho ou baio mocho, como ficou conhecido. O sangue do Guzerá e do Gir foram introduzidos mais tarde e também fazem parte da formação do Tabapuã.
Nos anos 40, o gado mocho começou a se espalhar por outras regiões. Júlio do Valle, proprietário da Fazenda São José dos Dourados, levou alguns desses animais de Goiás para São Paulo e presenteou o amigo Alberto Ortenblad, da Fazenda Água Milagrosa, com um garrote zebuíno mocho.
Com interesse em desenvolver bovinos com melhores qualidades, a família Ortenblad criou em 1943 um planejamento zootécnico elaborado. Assim, 100 matrizes Nelore foram separadas para as experiências com o touro T-0, como foi chamado o garrote mestiço. Trabalhos e resultados foram registrados em detalhes. Foi a partir desses cruzamentos que a coloração branco-acinzentada do Nelore predominou nos animais, que permaneceram sem chifres como o gado mocho.
Bons resultados chamaram a atenção do mercado nos anos seguintes. Em 1970, Ministério da Agricultura recomendou que o Tabapuã fosse incluído entre as raças zebuínas, ainda como “tipo”. A Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), então, foi encarregada de realizar o registro genealógico da espécie. Em dez anos, o Tabapuã precisaria mostrar através de análises e provas as características que o diferenciavam de outros zebuínos.
 Fonte: www.portaldoagronegocio.com.br

Entre 1970 e 1980, o Tabapuã ganhou 80% das pesagens de que participou e em 1981 foi definitivamente reconhecido como raça. O terceiro neozebuíno a ser formado no mundo, depois do Brahman e do Indubrasil. Por ser o primeiro entre esses a surgir a partir de um planejamento específico, o Tabapuã é considerado a maior conquista da zootecnia brasileira dos últimos cem anos.
Vantagens da raça
As vantagens do Tabapuã para reprodução se destacam entre os zebuínos. Com pouca idade no primeiro parto, as matrizes apresentam alto índice de fertilidade e a habilidade materna da raça garante bom desenvolvimento para os bezerros.
Entre os 14 e 16 meses, as fêmeas atingem em média 25% de fertilidade. Entre os 16 e 18 meses, 50% e entre 18 e 20 meses, mais de 60%. Algumas fazendas já registram 95% de sucessos em inseminação artificial. As matrizes Tabapuã também apresentam boa produção de leite.
Essa característica faz com que os bezerros da raça tenham desempenho superior a outros zebuínos da mesma idade. Aos 120 dias, por exemplo, eles chegam a 118 quilos em média e na desmama já estão com 200 quilos.
A idade do primeiro parto e o intervalo entre os partos seguintes são a base do índice de natalidade. Bons resultados nesse campo significam maior lucro para o produtor. Nesse quesito, o Tabapuã comprova seu valor todos os anos nas feiras e exposições de que participa.
Animal dócil
Docilidade é uma das características mais prezadas pelos criadores. Sem chifres, a raça é mansa e por isso não se estressa ou perde peso durante vacinações, pesagens e transporte. O Tabapuã lida melhor com alimentação no cocho, aceitando com facilidade o confinamento. Todas essas características se unem à rusticidade e resistência da raça e formam o gado ideal, que dá menos trabalho e mais resultado para o pecuarista, segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Tabapuã.
Tabapuã é considerado o zebu mais precoce. Os animais são campeões de peso já aos 205 dias e mantêm essa vantagem ao longo do seu desenvolvimento. Em média, os bois chegam à fase de abate aos 30 meses. O Nelore, por exemplo, costuma ser abatido a partir dos 40 meses de idade.
Essa é uma característica própria da raça. Seja no pasto ou em confinamento, os animais têm bom ganho de peso e demonstram acabamento de carcaça exemplar. A precocidade do gado é um fator valioso e o Tabapuã mostra suas vantagens na balança.
A taxa de inbreeding ou consangüinidade próxima elevada dá ao Tabapuã a habilidade de extinguir defeitos e perpetuar qualidades. Por isso, sua utilização em cruzamentos com outras raças tem crescido vertiginosamente. Seja em gado de leite ou de corte, as melhorias que o Tabapuã pode trazer ao rebanho são de interesse de muitos criadores.
Experiências com o Nelore têm produzido grandes resultados. O Tabanel, fruto desse cruzamento, é exemplo das possibilidades e benefícios da genética Tabapuã. Outro destaque é o Tabolando, vindo da cruza com o gado holandês e voltado para a produção leiteira. Animais mais fortes, dóceis e com melhor desempenho são o objetivo dessas iniciativas, que têm sucesso confirmado.
A raça também tem sido utilizada para melhoria do gado europeu. Entre os zebus, é a que melhor se adapta à região sul do país. Por isso, tem participação importante em experimentos com o Hereford, por exemplo. O sangue do Tabapuã tem reduzido a mortalidade e aumentado a longevidade dos rebanhos gaúchos. Ou seja, tem gerado mais lucratividade para o produtor.
A Associação dos Criadores de Tabapuã em Goiás (ACTG) é presidida por Wagner Miranda. Ocupa a vice-presidência, José Vicente Ferreira Passani; diretoria social, Goiás Celso Chaves de Amorim; diretor administrativo e financeiro, Willion Carlos Reis de Barros; diretor secretário, Irondes José de Morais; diretor técnico, Giorgio Lorenzo Arnaldi; e diretora de divulgação e marketing, Ana Maria Miranda.

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